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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Me amas? Apascenta as minhas ovelhas!"

Sobre algumas críticas ao Papa Francisco


Roma, 23 de Outubro de 2013


Logo após a eleição do Papa Francisco conversávamos entre os amigos sobre os comentários positivos que surgiram da sua eleição, provenientes não só dos mais diversos ambientes eclesiais, como também das mais díspares áreas do pensamento laico e laicista.

Certamente o mais interessante foi notar que a sua figura atraía muitas pessoas até agora distantes de uma vida de fé regular ou de uma participação dos ritos da comunidade cristã; ao mesmo tempo foi evidente um grande entusiasmo dos pobres e dos pequenos, seja do sul do mundo que das nossas cidades, daqueles que estão acostumados a expressar uma fé simples.

Se nos perguntarmos sobre o significado dessa manifestação de entusiasmo, que podíamos chamar, por uma boa razão, de “universal”, nos encontramos com uma pitada saudável de curiosidade, na espera de prováveis desapontamentos e de certas críticas que logo chegariam.

Papa Francisco nos últimos meses continua a surpreender-nos e a suscitar entusiasmo falando de pobreza, de periferias, de ovelhas e do seu fedor, mais do que de ovelhas imaculadas de certa holografia. Simbolicamente escolheu morar em um apartamento modesto, levar uma malinha para os seus traslados, quebrar as normas de segurança, telefonar para casas de simples fieis que se dirigiam a ele com as mais diversas súplicas. Mas junto com esses sinais retomados e transmitidos pelos meios de comunicação, em tantas ocasiões, certamente menos contado foi que nos recomendou a devoção a Maria, consagrando o Mundo inteiro à Nossa Senhora de Fátima. Chama a nossa atenção com anedotas e experiências pessoais da forma mais simples, tradicional, popular, de expressão do amor pelo Senhor. Reafirmou a sacralidade da vida de todo homem, especialmente dos não-nascidos, dos jovens e dos anciãos, que são o futuro e o passado, a esperança e a memória de cada nação e de cada sociedade.

Depois concedeu algumas entrevistas, se ofereceu para falar com alguns jornalistas, conservando também com eles o mesmo estilo imediato que não mede as palavras, que quer aquecer o coração do seu interlocutor para prepará-lo para receber a semente que ele lança, sem saber e sem perguntar-se se e quando brotará: podem imaginar Scalfari emocionado por causa do telefonema do Papa (ele mesmo disse), que não sabe quais palavras utilizar, que aceita o encontro, lugar, dia e hora, proposto pelo Papa Francisco sem complicações por compromissos anteriores?

E chegaram as críticas.

As primeiras vieram de dentro mesmo da Igreja e isso em si não é ruim, é sempre um sinal de atenção, por outro lado o Papa não é sempre infalível, na verdade só raramente fala ex cathedra, comprometendo-nos aos seguimento sem discussões, portanto, na maioria das vezes, especialmente quando o contexto é informal, quase confidencial (e Francisco muitas vezes se move nestes espaços), que é suficientemente formado e informado, suficientemente respeitável e especializado, com as devidas formas e com toda a caridade que é capaz, pode também fazer críticas, pedir esclarecimentos ou expressar perplexidades.

O que não é aceitável, e que é substancialmente risível, é acusar o Papa de intenções cismáticas ou de subversivo com relação ao Magistério.

Acho que Francisco quer deixar claro que a sua atenção é realmente cada um de nós, assim como a de Jesus, por isso interpreta o papel do Pontífice de modo literal, procura contactos pessoais de uma forma incrível, correndo o risco da simplificação, às vezes, até mesmo do equívoco, aproximando-se de cada um de acordo com a lei da gradualidade que, como nos ensinaram, não é a gradualidade da lei.

O próprio São Francisco foi ao Papa de joelhos, não fundou outra Igreja, mas esperou que o Papa, com o seu discernimento e com a ajuda do Espírito reconhecesse a extraordinária novidade da sua pregação, que o abençoasse e o enviasse ao mundo.

Realmente, algum de nós pensa ser mais inspirado?

De Paulo, de Apolo ou de Cefas, de João Paulo II, de Bento ou de Francisco: "Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro: tudo é vosso! Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor 22-23). Jesus é o fundamento, Ele é o Caminho, Ele escolheu Pedro, nós acreditamos que também escolheu Francisco. Por outro lado, ou é assim e temos que cerrar fileiras em torno a ele, ou não é assim e então tudo seria em vão, e até mesmo as nossas considerações e esclarecimentos!

Penso eu que três palavras deveriam estar impressas na nossa mente e no nosso coração depois destes primeiros meses de pontificado: ternura, custódia, misericórdia. Sobre cada uma, sabendo fazê-lo, poder-se-ia escrever muito, mas de forma essencial delineiam a fisionomia do “Homem Novo”, exposto às intempéries do Mundo, parado na porta, mas acolhedor, guardião confiável porque forte, embora suave, capaz de perdão porque conhece bem a debilidade, que não se retira do encontro e do confronto porque “o Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a fortaleza da minha vida, de quem terei medo? " (Sl 26).

Cada Papa é o que tem que ser, porque, graças a Deus, não depende de nós.


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