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domingo, 20 de outubro de 2013

A Fraternidade de Santo Elias: católicos e ortodoxos juntos, com espiritualidade carmelita

Novo ecumenismo monástico nos Montes Cárpato

A Fraternidade Santo Elias tem uma dimensão ecuménica
Actualizado 18 de Outubro de 2013

Cristiana Dobner / L´Osservatore Romano

Elisabeth era uma jovem carmelita descalça francesa que aceitou o convite de viver a sua chamada de clausura na China, onde descobriu a laceração da Igreja o que a levou a preguntar-se sobre a possível resposta de quem procura a unidade.

Expulsa pela revolução maoísta e de novo na sua pátria, Elisabeth iniciou um caminho que a levou, junto com outras irmãs, a fundar o Carmelo de Saint-Rémy de rito bizantino-eslavo, dedicado à oração para implorar e receber o dom da unidade.

As relações das carmelitas descalças com o mundo ortodoxo passaram também através de anos de estudo profundo, de conhecimento recíproco, de estima e encontros.

Quatrocentos membros
Lentamente desenvolveu-se a Fraternidade Saint-Élie que reúne, hoje, uns quatrocentos membros — laicos, sacerdotes, religiosos e religiosas de todo o mundo — que acolhem o convite de viver na vida diária e na oração o desejo de Jesus Cristo de «que todos sejam um», e a descobrir as raízes hebraicas da sua fé.

A alma obrante é Sor Éliane que, desde há uns vinte anos, vive no mosteiro Santa Cruz em Stanceni, uma pequena localidade cujos claros campos foram arrancados à espessa cortina, impenetrável e sugestiva, dos bosques dos Cárpatos. 

Segundo a primitiva Regra Carmelita
O mosteiro apresenta-se tal como o descreve a Regra primitiva dos frades de Nossa Senhora do Monte Carmelo: uma capela no centro e, em redor, as células dos eremitas. Tudo de madeira e em puro estilo oriental romano.

No reino da pobreza, a mesma que se observa ao longo do percurso que, partindo do aeroporto de Tirgu Mures, encaixado entre picos altíssimos e correntes com pontes de corda, chega a uma ponte, esta de cimento, que parece levar à meta desejada.

Sem dúvida, faltam ainda outros vinte minutos que se percorrem por uma estrada cheia de pó e pedras, que se detém onde parece não haver nada mais. Por outro lado, precisamente aqui, um portão de madeira, sobre o qual se talhou a história do profeta Elias, introduz na hospedaria do mosteiro.

Continua-se a pé, e um riacho indica a zona das monjas eremitas com o cartaz “Clausura” situado em cima da pequena porta. Um campo, sem vegetação, penetra no bosque que se abre até ao céu. Ali surgem as casitas de madeira que constituem as células: desde aqui se eleva o louvor a Deus com a oração litúrgica da Igreja, num rito católico bizantino-eslavo. Daqui parte o pedido para que cada pessoa se abra ao autêntico espírito ecuménico.

A Transfiguração: festa chave da Fraternidade
Cada ano, pela manhã do dia da Festa da Transfiguração, eixo da espiritualidade da Fraternidade Saint-Élie, o prado situado diante da Igreja enche-se de fiéis, pessoas que purificaram a fé debaixo do regime comunista, que conheceram as perseguições. O seu olhar é límpido e firme. Camponeses muito pobres, agricultores mais acomodados, trabalhadores e intelectuais mal pagos mas com uma grande cultura, católicos e ortodoxos, todos juntos numa sólida amizade.

A liturgia concelebram-na muitos sacerdotes, enquanto outros não param de confessar; as crianças brincam e logo se detém para rezar; o canto litúrgico ressoa na solidão do vale na antiga língua oriental.

O sol é implacável, mas todos resistem debaixo dos guarda-chuvas. Não é uma quermesse, não há barracas: o único anúncio é uma eucaristia que se dilata e se expande graças à Rádio Maria que a transmite em directo.

Hermenêutica da continuidade
À tarde, depois de um descanso debaixo das árvores, reúne teólogos e estudiosos, docentes universitários e jovens estudantes para o colóquio internacional de 2013 com o título Identidade de Israel e da Igreja hoje, moderado por Franciska Baltaceanu, da Universidade de Bucareste.

Abre o encontro o dominicano Edouard Divry, da Universidade Dominicana Domuni, com o tema: O mito da tradição comum, Jacob Neusner e Bento XVI, dividido em duas partes - a hermenêutica da rotura dilucidada e sustentada por Neusner e a hermenêutica da continuidade adoptada por Bento XVI - e que entra num profundo diálogo com o rabino, que lhe responde.

Tradição hebraica
Continua Rafael Shaffer, rabino chefe da comunidade hebraica da Roménia, que intervém sobre o papel da sinagoga no desenvolvimento da identidade hebraica, ressaltando com muita claridade o aspecto formativo para a comunidade de um encontro no qual interactuam diferentes componentes: a oração, o estudo, a comunhão fraterna no intercâmbio de enfoques enquanto todos se põe à escuta da Torah.

Há que ter presentes sempre dois pontos essenciais: «Israel é, por excelência, o povo do diálogo, o peregrino do diálogo num discurso entre homens e dirigido por Deus aos homens»; o theologoumenon fundamental imprescindível: o Evangelho é revelado.

Fio de conexão da síntese são os seis pontos indicados pelo cardeal Kasper na conclusão dos trabalhos de grupo, formados por estudiosos hebreus e cristãos, que duraram oito anos e que está recolhido numa publicação da Universidade Gregoriana. Este constitui a base para que se possa desenvolver, de verdade, a epifania do diálogo, desejo de todos os que procuram a Deus e da contínua intercessão das eremitas de Stanceni.

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