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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Viver a nossa fé com coerência, mesmo sendo uma religião minoritária

Entrevista com o vigário do Patriarcado Latino em Israel, durante a Conferência dos Bispos Latinos para as Regiões Árabes


Roma, 23 de Setembro de 2013


Uma reunião de quatro dias foi realizada em Roma pela Conferência dos Bispos Latinos das Regiões Árabes (CELRA). O vigário do Patriarcado Latino para os católicos de Israel que falam hebraico e para os imigrantes, David M. Neuhaus S.J., falou em entrevista a ZENIT sobre as dificuldades do actual momento na Síria e no Egipto e sobre a mudança observada no panorama internacional depois da vigília de oração e jejum que o papa Francisco convocou. O tema central da reunião, porém, foi a vida pastoral daquelas comunidades, que têm de viver a sua fé católica de modo coerente, mesmo sendo minorias em meio a outras religiões.

“A nossa conferência episcopal”, disse o vigário, “tem uma reunião anual, e a cada dois anos ela acontece em Roma. É uma reunião habitual, mas desta vez ela está marcada por dois eventos especiais: os cinquenta anos da fundação da CELRA, que nasceu em 1962-63, durante o concílio, e a situação dramática que os nossos países estão vivendo agora”.

Neuhaus ressalta que, “infelizmente, não pôde vir o vigário da diocese da Síria nem o bispo do Egipto, as duas nações que estão vivendo uma situação delicada neste momento”.

A reunião aborda temas fundamentalmente pastorais, mas o vigário comenta que “tratamos muito da situação na Síria e no Egipto, porque todos os países das nossas dioceses são afectados pela instabilidade naquela região”.

“Viemos de quatro países da Terra Santa: Israel, Palestina, Jordânia e Chipre. E de outras nações da região, como o Líbano, a Síria, o Iraque, além dos países do Golfo Árabe, que estão divididos em duas dioceses, a da Arábia Norte e a da Arábia Sul. E ainda do Egipto, da Somália e de Djibuti. Uma conferência episcopal estranha, em que nós temos dificuldades para encontrar um país onde nos reunir sem problemas”.

Neuhaus recorda que não se trata de “uma visita ad limina, que são feitas a cada cinco anos. É a reunião anual da CELRA, que no ano passado foi na Jordânia e desta vez é aqui em Roma”.

Sobre a situação na Síria, “mostramos a nossa gratidão ao papa pelas iniciativas que ele propôs a todo o planeta, como a jornada de jejum e de oração pela paz no mundo. Não sabemos se é um milagre, mas, antes da vigília, todos os países do mundo diziam guerra, guerra, guerra, e agora a palavra é diálogo, diálogo, diálogo. Estamos muito contentes com este resultado. Mas a situação ainda é bem dramática e nós temos que continuar rezando intensamente para que esta situação terrível se resolva”.

Não haverá um encontro formal com o papa “por não se tratar de uma visita ad limina, mas fomos recebidos em grupos e rezamos com ele na missa da Casa Santa Marta”.

“A possibilidade do diálogo é factível porque Deus pode tudo. Não somos homens políticos, que têm que propor etapas práticas para o diálogo, mas temos que transmitir sempre palavras de esperança para o povo. A nossa profissão é uma profissão de esperança e de perdão”.

ZENIT perguntou se a guerra na Síria é uma guerra civil. Neuhaus precisou: “Há também as forças estrangeiras que entram para ajudar as duas partes. Nós não estamos lá para tomar posição a favor ou contra, mas para apresentar os valores da Igreja, porque é o povo que paga o preço desta guerra”.

“Os cristãos, para dizer a verdade, estão divididos. A hierarquia na Síria é grata ao governo porque ele sempre foi muito tolerante com a presença cristã e existe o medo de que alguns sectores da oposição sejam islâmicos demais. Os medos são claros, mas a igreja tem que estar sempre perto desse povo dividido, tem que rezar pelo perdão, pela esperança, pela unidade, e caminhar para um futuro melhor”.

Existe o medo de que um ataque ocidental cause represálias contra os cristãos? “Não é o único medo, mas é um medo claro. Nós temos que olhar para a história e ver que a intervenção no Afeganistão não foi um sucesso, nem no Iraque. Por que ia ser melhor desta vez? Nós temos que apoiar o diálogo, porque você pode invadir e assassinar todo mundo, porque isso é a guerra. Nós queremos que todos os chefes do governo e a oposição resolvam a situação de maneira pacífica”.

“Este foi um dos temas, mas nós tratamos de muitos outros, sobre a vida pastoral dos nossos fiéis. Tivemos reuniões com o cardeal Robert Sarah, presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, com o presidente do Pontifício Conselho para a Família, dom Paglia, que falou de temas perpétuos da vida pastoral entre os nossos fiéis, a família, o ano da Fé. E com o cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. O diálogo foi muito frutífero".

“O particular das nossas igrejas é que elas vivem como minorias. A maioria vive em ambientes islâmicos. Os meus fiéis não vivem no meio dos muçulmanos, e sim da população judaica, mas nós também somos uma pequena minoria e temos que tentar viver a nossa fé de modo coerente. Estamos abertos ao diálogo ao nosso redor e também ao diálogo ecuménico, com outras minorias cristãs”.



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