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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O curioso fenómeno religioso da Geórgia: conversões massivas do islão ao cristianismo

Volta religiosa sem precedentes em Ayaria 

Mosteiro na Geórgia
Actualizado 21 de Setembro de 2013

Raffaele Guerra / Vatican Insider

Talvez seja um dado único no mundo: em 1991 75% dos ayarios, minoria étnica da Geórgia sul-ocidental, era muçulmano. Hoje, segundo os documentos oficiais da actual República de Ayaria, 75% pertence à metrópole de Batumi da Igreja Ortodoxa gregoriana. Trata-se de uma inesperada conversão. A islamização dos ayarios começou em 1614, ano da conquista otomana.

Quanto à dinâmica do regresso massivo dos ayarios ao cristianismo ortodoxo já tinha falado a esse respeito o metropolita Dimitri, encarregado da província eclesiástica de Batumi (capital da República caucásica), numa entrevista em fins de 2012. O metropolita Dimitri indicou que a conversão de quase todo um povo deu-se debaixo dos seus olhos: «Em 1991», declarou, «cinco mil pessoas, entre muçulmanos e ateus, converteram-se à Ortodoxia. No mesmo ano abrimos uma escola superior de estudos teológicos na cidade de Khulo: foi a primeira escola religiosa que abriu na URSS».

Sacerdotes que provêem do Islão

Hoje muitos párocos provêem de famílias islâmicas. Basta pensar que o reitor do seminário de Batumi é o neto de um mullah que se formou em Istambul. A Ayaria confina ao sul com a Turquia e, segundo alguns artigos que apareceram recentemente na imprensa local, os turcos sustêm iniciativas para incrementar a presença islâmica na região.

Os jornais ayarios indicaram que chegaram à sua região alguns discípulos do conhecido pregador otomano Süleyman Hilmi Tunahan, original de uma aldeia que hoje se encontra em território búlgaro e que desenvolveu as suas actividades em Istambul até 1959. Além disso, em Ayaria há pequenos enclaves islâmicos, sobretudo entre as localidades do interior. Justamente na população de Khulo há uma mesquita e uma madrassa (escola corânica), e os anciãos todavia falam turco.

A convivência, por agora, parece pacífica, apesar de que a conversão ao cristianismo de muitos muçulmanos se tenha convertido numa espécie de tabu entre o resto da minoria islâmica georgiana, que vai desde os chechenos na fronteira com Chechénia e Daguestão até os chiítas da Geórgia oriental, até Azerbaijão.

Há que reconhecer que o estado georgiano não favorece o islão, é mais o cristianismo ortodoxo está incluído num marco no qual todavia está vigente a religião do estado. Justamente no final de Agosto, no distrito de Adiguéni, na Geórgia sul-ocidental, verificou-se o caso do “minarete da discórdia”, como o chamou a imprensa local.

As autoridades civis demoliram um minarete porque não se tinha pago o imposto necessário dos materiais de construção. Todos os muçulmanos que protestaram contra da demolição foram presos.

Voltam à fé dos seus antepassados
A razão da conversão, segundo o metropolita Dimitri de Batumi: os ayarios foram convertidos pela força ao islão pelos otomanos, mas no fundo continuaram sendo cristãos. Continuaram, até época recente, usando a cruz, ainda que em segredo, mantiveram o costume de decorar os ovos para a Páscoa (típica tradição popular do oriente cristão) e também os ícones nas suas casas. Além disso há que acrescentar o fermento religioso que se viveu durante os últimos anos da URSS e depois da queda em 1991.

Ícone deste fenómeno foi a conversão pública do presidente Eduard Shevardnadze, ex-ministro do Exterior soviético que se converteu num dos filhos espirituais do Patriarca georgiano Ilía II.


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