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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Diagnóstico genético pré-natal: a definição em três pontos

Glossário de Bioética: avaliação do número e do tipo dos cromossomas de um embrião ou de um feto, que pode ser directa ou indirecta e que não é eticamente neutra


Roma, 19 de Setembro de 2013


Diagnóstico genético pré-natal: é a avaliação do número e do tipo dos cromossomas de um embrião ou de um feto, que pode ser "directa" (com amostras de tecidos fetais) ou "indirecta" (hormónios maternos, exame ecográfico) e que não é eticamente neutra, posto que o ato de realizá-lo já abre a possibilidade de se fazerem escolhas quanto à vida ou à morte do feto.

O realismo
O diagnóstico genético pré-natal é a avaliação do estado cromossómica do feto, com o objectivo de descobrir possíveis doenças que actualmente não têm cura.

Pode ser executado directamente, através da análise de células fetais, ou indirectamente, com ecografias direccionadas a procurar sinais de anomalias genéticas ou mediante a mensuração dos níveis de hormónio no sangue da mãe.

Não se trata do simples exame pré-natal normal, que tem intenções curativas. Estamos tratando, aqui, de dois sujeitos: o filho e a mãe. O feto que recebe o diagnóstico genético é, de fato, um ser vivo, o que nos coloca diante de um paradoxo: é realizado o diagnóstico do sujeito A, sem que ele tenha pedido, em interesse do sujeito B.

E por estarem em questão doenças que não podem ser tratadas, há quem considere que esse tipo de diagnóstico é uma intromissão ilícita na privacidade genética do indivíduo. O risco de morte fetal como "efeito colateral" é relevante: de 5 a 10 por cada 1.000.

Por mais que a mulher grávida esteja ansiosa para saber qual é a condição genética do feto e assim tentar reduzir essa ansiedade, o diagnóstico pode ser o resultado de um desejo de controle sobre a criança, que vai muito além do período pré-natal e que pode acabar levando à interrupção da gravidez em caso de constatação de anomalia genética.

A razão
Há um pré-juízo em favor da mulher ou da criança? O desejo de justiça nos leva a considerar tanto os interesses da mulher quanto os da criança: ambos devem ser considerados com cuidado e sem preconceitos.

O desejo de beleza pode nos levar a considerar erroneamente a beleza como apenas um factor estético e, erroneamente, como a ausência de anomalias: muitos nos mostram que a diversidade e a diferença são uma riqueza, mesmo quando exigem esforço e cuidados. É compreensível a ansiedade das mulheres numa sociedade que coloca a beleza estética como princípio supremo, que não presta ajudas sociais nem económicas aos portadores de deficiências, que pressiona culturalmente ao diagnóstico genético pré-natal; por isso, em caso de forte angústia, pode-se até entender a importância de uma avaliação genética, mas é difícil aceitar a sua justificação como procedimento rotineiro.

Que tipo de cultura produz a propagação do diagnóstico genético pré-natal como rotina? Provavelmente, a ansiedade generalizada na população: os filhos, hoje, são filhos únicos, e não se aceita nenhum resultado da gravidez que não seja a suposta "perfeição". O problema não está no casal, mas na cultura geral, que moldou uma geração que só sabe se aceitar se estiver de acordo com os cânones estéticos e económicos propagandeados pela media, devido à falta de apoio social e cultural aos doentes.

O paradoxo é que, enquanto a possibilidade do filho "diferente" leva quase todos a quererem averiguá-la antes do parto, com alto índice de abortos de crianças com possíveis deficiências, os pais que têm filhos doentes apresentam uma capacidade de sacrifício e de criatividade excepcional, apesar do abandono em que muitas vezes são obrigados a viver.

O sentimento
O primeiro pensamento de muitos, tão logo descobrem uma gravidez, é: “Vamos ter esse filho?”.

É um sinal de alarme: é um modo medroso de pensar sobre nós mesmos e sobre a vida. Se o estado de ansiedade é tão grande, então que seja avaliada a presença de doenças genéticas fetais, como informação importante para se gerir o estado de ansiedade. Mas para aqueles que consideram que a vida é sagrada, pensar em fazer um aborto já é uma grave contradição. Antes de fazer os diagnósticos genéticos, portanto, é preciso pensar muito bem.



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