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terça-feira, 24 de setembro de 2013

A pior matança dos talibans contra os cristãos no Paquistão

Matança no Paquistão
82 falecidos, e mais de 140 feridos

"Não só é um atentado contra a nossa minoria, mas sim contra a humanidade"

Jesús Bastante, 23 de Setembro de 2013 às 16:41

O Paquistão amanheceu hoje comocionado pela pior matança cometida pelos talibans contra a comunidade cristã, que custou a vida a mais de oitenta pessoas e põe em cheque a estratégia de diálogo do Governo com os radicais.

A última contagem elevou para 82 o número de falecidos, que ainda pode subir dado o estado crítico de vários dos mais de 140 feridos que deram entrada nos hospitais da localidade norte-ocidental de Peshawar, numa de cujas igrejas se produziu o massacre.

"Não tínhamos palavras ante o horror que tínhamos em frente", explicou o director da Liga Interconfessional do Paquistão (APIL), o cristão Sayid Ishaq, que visitou ontem junto com diversas autoridades regionais as vítimas hospitalizadas.

"Não é só um atentado contra a nossa minoria, mas sim também contra a humanidade deste país", disse Ishaq, que qualificou a situação depois de ataque "como a pior sofrida até agora pelos cristãos paquistaneses".

Milhares de membros da minoria cristã - que agrupa uns 4 milhões de fiéis – manifestaram-se hoje nas principais cidades do país asiático em protesto pelo massacre e em demanda de maior protecção do Estado perante a violência dos radicais.

Os protestos desta manhã engarrafaram o tráfego em algumas zonas de Lahore, Karachi e Islamabad, mas não revestiram apenas carácter violento.

Em Pesháwar as manifestações congregaram várias centenas de pessoas, algumas das quais lançaram pedras contra as janelas do hospital Lady Reading, onde se encontra o grosso dos feridos pelo atentado.

Segundo meios locais, os manifestantes alegam que a falta de pessoal sanitário nesse e outros centros da cidade provocou a morte de numerosos feridos.


O atentado suicida de ontem, no qual dois insurgentes talibans fizeram explodir as suas cargas à saída da missa dominical na igreja de Todos os Santos, provocou enérgicas condenações tanto dentro como fora do país.

O papa Francisco e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, mostraram a sua repulsa pelo ataque, enquanto dentro do país a condenação foi unânime e revelou contradições na classe política pela sua intenção de negociar com os radicais.

"Por causa disto (o ataque), ao Governo é-lhe impossível avançar no que havia planeado e desejado", afirmou ontem o primeiro-ministro, Nawaz Sharif, desde Londres a caminho de Nova Iorque, onde se dirige para assistir à Assembleia Geral das Nações Unidas.

Sharif referiu-se à mentalidade dos terroristas como "brutal e inumana" e qualificou os talibans como "inimigos do Paquistão", apesar do qual o chefe de Governo foi um dos principais defensores do diálogo com eles.

O outro grande defensor das negociações foi o líder populista e ex glória do críquete local, Imrán Khan, cujo partido governa na província de Khyber Pakhtunkhwa - com capital em Peshawar - com um programa próximo aos sectores religiosos mais conservadores. Citado por meios locais, Khan perguntou-se em público porque havia tido lugar o atentado às portas de um processo negociador e pediu que o massacre "não fosse politizado".

Meios locais arremeteram hoje contra a intenção governamental de iniciar diálogo com os autores de reiteradas matanças de civis inocentes. "Alguns dos nossos políticos acreditam que se pode falar com esta gente (TTP)?", pergunta-se hoje o editorial do Express Tribune.

"O diálogo não pode funcionar", anunciou o analista e escritor Razá Rumi, director de um dos principais centros de estudo político do país. "A matança de ontem e o assassinato há uma semana de dois altos cargos do Exército no norte do país mostram que os radicais não têm nenhuma intenção de negociar, pelo que um hipotético processo de conversações não tem nenhum futuro", fundamentou Rumi.

(Rd/Agencias)


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