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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Papa Francisco: «Rezemos para que os mafiosos se convertam. Não podem continuar assim»

Recordando o beato Pino Puglisi

A Igreja beatifica a primeira vítima da máfia siciliana, um sacerdote assassinado em 1993 chamado Pino Puglisi. Combateu durante todo o seu sacerdócio contra a Cosa Nostra.

Actualizado 26 de Maio de 2013

Efe


"Rezemos para que os mafiosos e mafiosas se convertam. Não podem continuar assim". Foi o enérgico apelo do Papa Francisco durante o rezar do Ângelus na Praça de São Pedro, recordando don Puglisi, mártir siciliano beatificado ontem. “Por detrás de muitos males”, afirmou Francisco, “estão as máfias”.

O Papa Francisco, como João Paulo II em 1993, lançou um apelo para que a máfia se converta. Em 9 de Maio de 1993, o Papa João Paulo II, no Vale dos Templos de Agrigento, dirigiu-se aos mafiosos para que se convertessem. A 20 anos de distância, o Papa Francisco recordou o exemplo de Pino Puglisi, assassinado pela máfia em 1993.

A máfia está detrás da escravidão e exploração
“Penso em todas as dores de homens e mulheres, inclusive de crianças, que são exploradas por muitas máfias, que os exploram obrigando-os a fazer trabalhos que os escravizam, com a prostituição, com tantas pressões sociais; por detrás desta exploração, desta escravidão, estão as máfias - denunciou energicamente o Papa -, mas peçamos ao Senhor para que converta o coração destas pessoas; não podem fazer isto, não podem escravizar os nossos irmãos, devemos rezar ao Senhor, rezemos para que estes mafiosos se convertam a Deus”.

Beatificação multitudinária

Dezenas de milhares de fiéis assistiram no sábado passado à cerimónia de beatificação em Palermo, na ilha italiana de Sicília, do sacerdote Pino Puglisi, assassinado em Setembro de 1993 por ter combatido durante toda a sua pastoral contra a Cosa Nostra, a máfia siciliana.

Os fiéis chegaram de toda a Itália, em particular da Sicília, mas sobretudo da pequena Godrano, a localidade da zona de Palermo onde Puglisi trabalhou nos anos 70 para ajudar e dar confiança a uma comunidade golpeada pela violência da máfia e de Brancaccio, o bairro de Palermo onde nasceu Don Pino e onde os sicários acabaram com a sua vida.

Durante a cerimónia leu-se uma mensagem do presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, na qual se valorizava a "sua profunda generosidade e altíssimo valor" e se recordava "o horror suscitado em todo o país quando se soube do seu bárbaro assassinato".

"Don Puglisi continua representando um exemplo para todos aqueles que não querem inclinar-se às prevaricações da criminalidade mafiosa", acrescentou Napolitano.

A sua beatificação foi possível depois de que o anterior papa Bento XVI aprovasse, como é da praxis, o decreto pelo que se reconhece um milagre por sua intercessão.

Mas para muitos dos cidadãos de Palermo, Don Pino tinha subido já aos altares pela sua atenção aos mais jovens e a luta e denúncia dos métodos mafiosos que aterrorizavam a cidade.

Um disparo na nuca
Puglisi, pároco da igreja palermitana de San Gaetano, foi assassinado com um disparo na nuca no dia do seu aniversário.

Foi a primeira vez que a máfia assassinava um sacerdote que se opunha e denunciava os seus métodos, e segundo os investigadores o crime era uma "mensagem" à Igreja para que parasse a ofensiva contra a dita organização criminal.

O sacerdote foi assassinado por ordem dos irmãos Giuseppe e Filippo Graviano, chefes da zona na qual se encontrava a paróquia de Puglisi, segundo revelou posteriormente o homem que lhe disparou na nuca, Salvatore Grigoli.

A Cosa Nostra já o tinha ameaçado em várias ocasiões, mas em 15 de Setembro, às 20:45 quando Don Puglisi ia a entrar ao portão da sua casa uns jovens aproximaram-se fingindo que o queriam roubar e dispararam-lhe na cabeça, uma verdadeira execução ao estilo mafioso.

'Estava-os esperando'
Os dois sicários Grigoli e Gaspare Spatuzza foram capturados e começaram a colaborar com a Justiça depois de ficarem chocados, asseguraram, porque o sacerdote quando os viu sorriu-lhes e disse-lhes: 'Estava-os esperando'.

"É importante falar da máfia, sobretudo nos colégios, para combater contra a mentalidade mafiosa que vende a dignidade do homem por pouco dinheiro", dizia Don Puglisi, que pedia às instituições que passassem "das palavras aos actos" para lutar contra a criminalidade organizada.


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