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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Os católicos pelo direito a usar armas querem um patrono: São Gabriel da Dolorosa

O debate chega ao Senado dos EUA

O jovem passionista italiano, canonizado em 1920, pôs em fuga uns ladrões de revolver na mão e sem vítimas.

Actualizado 15 de Abril de 2013

Carmelo López-Arias / ReL


Ainda que o debate sobre as restrições ao direito a usar armas, agora no Senado, se coloca nos Estados Unidos em termos da Constituição, os bispos norte-americanos saudaram positivamente a iniciativa de Barack Obama entendendo que um maior controlo (não se está falando da proibição) favorece o respeito à vida. É, em qualquer caso, um tema debatido entre os católicos norte-americanos, e assim o entende John Snyder, presidente da Sociedade São Gabriel Possenti.

Snyder, antigo seminarista, é um dos mais firmes partidários do direito a usar armas, e de facto foi durante um tempo lobista em Washington com essa tarefa. "Defender o direito das pessoas a defender-se a si mesmas com as armas apropriadas é parte do meu catolicismo", afirma.

Segundo uma sondagem do Public Religion Research Institut e de Religion News Service, 62% dos católicos estadunidenses apoiam a posição de Obama e os bispos de elevar o controlo sobre a posse de armas. Os discrepantes sustêm que não estão obrigados a manter essa posição: "Não é algo que eu tenha que crer enquanto católico", alega Mark Cunningham, outro dos defensores católicos do dito direito constitucional.

Opiniões discrepantes
O debate vem de longe. A conferência episcopal pede desde 1975 um incremento nas restrições à posse de armas: "Cremos na protecção da vida, morrem demasiadas pessoas nas ruas e nos seus lares", alega Anthony Granado, conselheiro dos bispos para este tipo de políticas.


Muitos católicos, sem dúvida, estão desconformes com essa posição partindo do mesmo princípio do respeito pela vida, possibilitando a sua defesa in situ e no acto: "Num mundo perfeito onde as pessoas obedecessem às leis, a posição dos bispos seria eficaz. Mas os criminosos não vão devolver as suas armas", sustêm Philip Cathell, católico comprometido e membro da NRA (Associação Nacional do Rifle). E, de facto, um dos grandes apoios da NRA é o também católico Paul Ryan (candidato a vice-presidente com Mitt Romney nas eleições de 2012), como John Boehner, também católico e líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes.

Por sua parte, Snyder fundou a Sociedade São Gabriel Possenti em 1989, com a peculiaridade de levar o nome de um jovem passionista italiano canonizado em 1920, pois o seu objectivo é nomeá-lo patrono dos possuidores de armas.


O salvador de Isola... Graças a um lagarto
A razão é que o jovem passionista italiano (1838-1862) defendeu o povoado de Isola em 1860 do ataque de vinte bandidos. Tratava-se de um grupo de soldados desertores das tropas de Giuseppe Garibaldi (fortemente anticlericais) que se dedicavam a aterrorizar a zona com roubos e crimes de toda a índole.

Gabriel, seminarista, obteve a autorização do reitor do seminário para enfrentar-se com eles desarmado na praça do povoado. Quando o jovem Possenti chegou, um dos renegados estava quase a violar uma jovem, e não fez nem caso quando viu que o único que o recriminava era um jovem com batina, completamente só.

A sua pontaria salvou o povoado dos bandidos.
Mas esse jovem com batina sabia manejar as armas e era hábil com elas. Pode aproximar-se do bandido e tirar-lhe a sua arma, e apontando-a obrigou-o a deixar seguir a rapariga. Ao ouvir o barulho o resto dos criminosos acudiu em socorro do seu compincha.

Justo nesse momento um lagarto atravessou a praça a bastante distância de Gabriel. O jovem clérigo, conservando a calma, apontou ao animal e deu-lhe um tiro para demonstrar a sua pontaria. Logo apontou aos bandidos e ordenou-lhes que largassem as suas armas e se fossem do povoado se não queriam correr a mesma sorte. Vendo a sua determinação, e não querendo ser nenhum deles o destinatário do disparo seguinte, obedeceram e, desarmados, tiveram que abandonar o lugar.

Então Possenti foi tomado em ombros pelos vizinhos e levado entre aclamações até o seminário, ganhando o título de "salvador de Isola".

E é que, graceja Snyder (que esteve em Roma mais de uma vez para procurar conseguir esse patrono), "no fundo tudo é um assunto de salvação. Necessito um crucifixo para salvar a minha alma... E um revólver para salvar a minha pele".

Obviamente, Possenti não foi canonizado por essa acção, que em qualquer caso aqueles que instruíram o seu processo canónico não consideraram contrária a virtude cristã alguma.


Seis anos para lavrar uma alma santa
Apesar de morrer aos 24 anos de tuberculose, o santo teve uma vida muito intensa. São Gabriel da Dolorosa, no secular Francesco Possenti, tinha fama de "flertar" nos seus primeiros anos. Filho de um advogado, tinha perdido a sua mãe aos quatro anos. Era a alma de todas as festas e chamavam-lhe "o bailarino" e "o namoradiço". Essa mundanidade (sem chegar a grandes extravios) permitiu-lhe também a familiaridade com as armas que acabamos de ver.

Sempre olhando a Virgem Maria.
Depois de estar a ponto de morrer de uma laringite considerou pela primeira vez entrar na vida religiosa, ao comprovar a caducidade da vida. E deu o passo quando a sua própria irmã faleceu de cólera. Foi em 1856 quando ingressou no convento passionista, e os seis anos transcorridos até ao seu falecimento foram suficientes para elevar a sua alma até à santidade. O exacto cumprimento da Regra, a estrita obediência aos seus superiores e um "insaciável desejo de penitência" que recordava logo um dos seus biógrafos, foram lavrando a sua perfeição espiritual. Foi assim como, depois da tuberculose que o levou, foi beatificado em 1908 por São Pio X, e canonizado por Bento XV em 1920.


Há quem tenha querido negar a autenticidade do feito de armas que poderia convertê-lo em patrono daqueles que as levam e as usam para o bem. Mas o padre Godfrey Poage, passionista, um dos principais biógrafos de São Gabriel da Dolorosa (escreveu em 1962 Filho da Paixão. A história de Gabriel Francisco Possenti), documenta a veracidade do sucedido, e apoiou o pedido de patrono de Snyder.

São Gabriel é já patrono da juventude e medalha da associação católica italiana. Era característica nele a devoção a Maria, e foi a Virgem quem o guiou no caminho da santidade. Que nele se resolvia numa frase: "O que mais me ajuda a viver com a alma em paz é pensar na presença de Deus, o recordar que os olhos de Deus sempre me estão olhando e os seus ouvidos me estão ouvindo a toda a hora e que o Senhor pagará tudo o que se faz por ele, ainda que seja oferecer a outro um vaso de água".


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1 comentário:

  1. As armas de fogo não são efetivamente as unicas que podem ajudar à protecção das pessoas. Há muitas outra. Colocar no direito a possuir armas de fogo o direito dos cidadãos à auto-defesa é um erro que a sociedade norte-americana paga bem caro. Os acidentes domésticos com elas matam muita gente anualmente. Mas o principal da questão é o principio que está em causa. Podemos ser partidários de Cristo possuindo armas de fogo para nossa defesa pessoal e familar? Em principio sim. Mas podemos ser muito mais partidários de Cristo agindo contra a violencia por meios pacificos e ajudando os corpos policiais a fazerem as suas tarefas sem que os cidadãos tenham de andar armados. A informação é também uma arma eficaz; os circuitos de televisão; as artes marcias especialmente as que não desenvelvem os seus programas com armas além do próprio corpo humano. É tentador colocar na acção dissuasora das armas de fogo a esperança da protecção dos cidadãos. Mais eficaz é o reforço dos meios policiais e preventivos, a luta contra a pobreza e a degradação da saúde mental, a militância pelo pacifismo e a informação generalizada sobre comportamentos de risco e comportamentos potencialmente criminosos. As armas nunca resolveram nada, excepto a conta bancárias dos armadores.

    Ass Gabriel Coelho

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