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terça-feira, 16 de abril de 2013

O primeiro aniversário do Papa emérito

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O histórico abraço entre dois papas
Bento XVI cumpre amanhã 86 anos junto com o seu irmão Georg em Castel Gandolfo

Francisco chamará pessoalmente Ratzinger na sua onomástica

Jesús Bastante, 15 de Abril de 2013 às 18:59

(Jesús Bastante).- 86 velas. Pela primeira vez na história, um Papa cumprirá anos como Pontífice emérito. Joseph Ratzinger cumpre amanhã 86 anos na residência estival de Castel Gandolfo, afastado do mundo como prometeu e acompanhado do seu fiel secretário Gaenswein, e do seu irmão Georg, que o acompanha desde há dias. Fontes vaticanas apontaram a RD que Francisco chamará pessoalmente a Ratzinger amanhã, e que tinha intenção de visitá-lo, algo que, salvo surpresa de última hora, não sucederá.

Há oito anos, Joseph Ratzinger cumpria 78 primaveras, justo antes de entrar no Conclave que acabou elegendo-o como sucessor de João Paulo II à frente da Igreja. Passou o tempo, e a preocupação pela saúde do pontífice emérito aumenta. Apesar de que o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, negou verosimilidade às informações que apontavam para um agravamento severo da saúde do pontífice emérito, o certo é que as últimas imagens de Bento XVI, duas semanas depois de abandonar o Vaticano, quando se abraçou ao papa Francisco, denotavam uma desmelhoria evidente.

Apesar da sua condição de jubilado, e à espera de que em Maio se mude para o convento no interior do Vaticano onde acabará os seus dias, de todos os cantos do mundo estão chegando mensagens de felicitação ao papa emérito: muitos recordam o seu compromisso na defesa dos mais débeis, das crianças, das vítimas da pedofilia...

Em quase oito anos de Pontificado, Bento XVI, de facto, não só fez 24 viagens ao estrangeiro e umas trinta em Itália (percorrendo cerca de 160 mil quilómetros), mas sim, sobretudo, sempre quis anunciar o Evangelho. É o que fez nas suas três encíclicas: "Deus Caritas est", "Spe Salvi" e "Caritas in Veritate", e nos seus três livros sobre Jesus de Nazaré. Nunca teve medo de apontar o dedo contra a «ditadura do relativismo» e de propor uma fé razoável, dialogando com todos, inclusive os não crentes e ateus.

Sempre esteve preocupado pela defesa dos mais débeis, sem medo de revelar a praga da pedofilia e dos abusos cometidos por eclesiásticos. Um amor pela justiça que herdou do seu pai, um comissário da Polícia da baixa Baviera. A sua mãe era uma rapariga bávara que antes de casar-se tinha trabalhado como cozinheira em vários hotéis. Com eles, e em companhia do seu irmão Georg e da sua irmã Maria, o pequeno Joseph (que nasceu em 16 de Abril de 1927) cresceu aprendendo a conhecer a Bíblia. A sua juventude esteve marcada pelo drama da Segunda Guerra Mundial.

Enquanto tanto, o mundo, e a Igreja, parecem ter dado um volta de 180 graus. A chegada de Francisco, o "novo João XXIII", provocou uma onda de esperança entre os católicos, que auguram mudanças na estrutura e no modo da instituição enfrentar a multitude de desafios que se lhe apresentam, e entre os não crentes, que vêem nos gestos e primeiras decisões de Bergoglio uma progressiva aproximação da Igreja católica ao mundo secularizado do século XXI.

O que parece claro é que Francisco está mudando a imagem da Igreja, sem esquecer que, em boa medida, deve a sua eleição à histórica decisão de Bento XVI, que no passado 11 de Fevereiro, contra todo o pronóstico, apresentava a sua renúncia ao trono pontifício. Frente aos que agora decidiram esquecer Ratzinger, Bergoglio não perde ocasião para recordar o magistério e as lições do seu antecessor, que de certo modo procurou a possibilidade de que o seu sucessor possa reformar a Curia, continuar a tarefa de limpeza iniciada pelo papa alemão e configurar um novo modo de entender o ministério, baseado na humildade e no serviço.

Francisco felicitará Bento. E continuará agradecendo-lhe os serviços prestados e, na medida do possível, os conselhos futuros. A reforma da Curia, a resolução do Vatileaks ou a transparência financeira são alguns dos aspectos nos quais o papa emérito poderá aconselhar Francisco na sua titânica tarefa de actualização. Dois Papas para um tempo crucial. Um deles, já na sombra, celebra amanhã o seu 86º aniversário.

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