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segunda-feira, 25 de março de 2013

«A cruz de Cristo, abraçada com amor, não conduz à tristeza, mas sim à alegria», disse Francisco

Missa de Domingo de Ramos com o novo Papa

Actualizado 24 de Março de 2013

ReL

«Esta assembleia litúrgica é prelúdio da Páscoa do Senhor, a que nos estamos preparando com a penitência e as obras de caridade, desde o começo da Quaresma», disse o Papa Francisco ao começar a celebração do Domingo de Ramos, recordando que «Jesus entra em Jerusalém para dar cumprimento ao mistério da sua morte e ressurreição». Três temas estiveram no centro da homilia do Papa:
- Alegria: «um cristão não pode ser jamais um ser triste: a alegria nasce de ter encontrado Jesus»
- Cruz: «é com a cruz que Deu venceu o mal»
- Jovens: «desde há 28 anos o Domingo de Ramos é a Jornada da Juventude. Vocês, jovens, têm uma parte importante na celebração da fé».

Nas suas intensas palavras, o Papa convidou também a acompanhar «com fé e devoção o nosso Salvador na sua entrada na cidade santa, pedindo a graça de segui-lo até à cruz, para ser participantes da sua ressurreição».

Depois da tradicional e solene procissão com ramos de oliveira e de palma, que caracteriza este dia, na Praça de São Pedro iluminada pelo sol, com a participação de milhares de fiéis, o Bispo de Roma presidiu à Santa Missa e pronunciou a sua homília:

Texto completo da homília do Papa

1. Jesus entra em Jerusalém. A multidão dos discípulos acompanham-no festivamente, estendem-se os mantos perante ele, fala-se dos prodígios que fez, eleva-se um grito de louvor: «Bendito o que vem como rei, em nome do Senhor! Paz no céu e glória no alto» (Lc 19,38).


Gentio, festa, louvores, bênçãos, paz. Respira-se um clima de alegria. Jesus despertou no coração tantas esperanças, sobretudo entre a gente humilde, simples, pobre, esquecida, essa que não conta aos olhos do mundo. Ele soube compreender as misérias humanas, mostrou o rosto de misericórdia de Deus, inclinou-se para curar o corpo e a alma. E agora entra na Cidade Santa.

É uma bela cena, cheia de luz, de alegria, de festa.
No começo da Missa, também nós a temos repetido. Temos agitado as nossas palmas, os nossos ramos de oliveira, e temos cantado: «Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!» (Antífona); também nós temos acolhido o Senhor; também nós temos expressado a alegria de acompanhá-lo, de saber que nos é próximo, presente em nós e no meio de nós como um amigo, como um irmão, também como rei, quer dizer, como faro luminoso da nossa vida.

E aqui nos vem a primeira palavra: alegria. Não sejam nunca homens, mulheres tristes: um cristão jamais pode sê-lo. Nunca se deixem vencer pelo desânimo.

A nossa alegria não é algo que nasce de ter tantas coisas, mas sim de ter encontrado uma pessoa, Jesus; de saber que, com ele, nunca estamos sós, inclusive nos momentos difíceis, ainda quando o caminho da vida tropeça com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis... E há tantos!


Nós acompanhamos, seguimos Jesus, mas sobretudo sabemos que ele nos acompanha e nos carrega sobre os seus ombros: nisto reside a nossa alegria, a esperança que temos de levar neste nosso mundo. Levemos a todos a alegria da fé.

2 - Mas preguntamo-nos: Porque Jesus entra em Jerusalém? Ou, talvez melhor, como entra Jesus em Jerusalém? A multidão o aclama como rei. E ele não se opõe, não a faz calar (cf. Lc 19,39-40). Mas, que tipo de rei é Jesus? Olhemo-lo: montado num burro, não tem uma corte que o segue, não está rodeado por um exército, símbolo de força.

Quem o acolhe é gente humilde, simples. Jesus não entra na Cidade Santa para receber as honras reservadas aos reis da terra, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser açoitado, insultado e ultrajado, como anuncia Isaías na Primeira Leitura (cf. Is 50,6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura: a sua realeza será objecto de escárnio; entra para subir ao Calvário carregando um madeiro.

E, então, ver a segunda palavra: cruz. Jesus entra em Jerusalém para morrer na cruz. E é precisamente aqui onde resplandece o seu ser rei segundo Deus: o seu trono régio é o madeiro da cruz. Recordemos a eleição do rei David: Deus não elege o mais forte, o mais valente; elege o último, o mais jovem, um com o que ninguém tinha contado. O que conta não é o poder terreno.

Perante Pilatos, Jesus disse: «Eu sou Rei», mas o seu é o poder de Deus, que afronta o mal do mundo, o pecado que desfigura o rosto do homem. Jesus toma sobre si o mal, a sujidade, o pecado do mundo, também o nosso, e lava-o, lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus.

Olhemos ao nosso redor: quantas feridas inflige o mal à humanidade! Guerras, violências, conflitos económicos que se abatem sobre os mais débeis, a sede de dinheiro, de poder, da corrupção, as divisões, os crimes contra a vida humana e contra a criação. E os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e de respeito a Deus, ao próximo e a toda a criação.

Jesus na cruz sente todo o peso do mal, e com a força do amor de Deus o vence, o derrota na sua ressurreição. Queridos amigos, com Cristo, com o Bem, todos podemos vencer o mal que há em nós e no mundo.

Sentimo-nos débeis, inadequados, incapazes? Mas Deus não procura meios potentes: é com a cruz com a qual venceu o mal. Não devemos crer no Maligno, que nos diz: Não podes fazer nada contra a violência, a corrupção, a injustiça, contra os teus pecados. Jamais temos de acostumar-nos ao mal. Com Cristo, podemos transformar-nos a nós mesmos e ao mundo. Devemos levar a vitória da cruz de Cristo a todos e em toda a parte; levar este amor grande de Deus. E isto requer de todos nós que não tenhamos medo de sair de nós mesmos, de ir até aos demais.

Na Segunda Leitura, são Paulo diz-nos que Jesus se despojou de si mesmo, assumindo a nossa condição, e saiu ao nosso encontro (cf. Flp 2,7). Aprendamos a olhar até o alto, até Deus, mas também até abaixo, até os demais, até os últimos.

E não temos de ter medo do sacrifício. Pensem numa mamã ou num papá: quantos sacrifícios! Mas, porque o fazem? Por amor. E como os afrontam? Com alegria, porque são pelas pessoas que amam. A cruz de Cristo, abraçada com amor, não conduz à tristeza, mas sim à alegria.

3 - Hoje estão nesta praça tantos jovens: desde há 28 anos, o Domingo de Ramos é a Jornada da Juventude. E esta é a terceira palavra: jovens. Queridos jovens, imagino-os fazendo festa em torno de Jesus, agitando ramos de oliveira; imagino-os enquanto aclamam o seu nome e expressam a alegria de estar com ele.

Vocês têm uma parte importante na celebração da fé. Trazem-nos a alegria da fé e dizem-nos que temos que viver a fé com um coração jovem, sempre, inclusive aos setenta, oitenta anos. Com Cristo o coração nunca envelhece.

Mas todos sabemos, e vocês o sabem bem, que o Rei a quem seguimos e nos acompanha é um Rei muito especial: é um Rei que ama até à cruz e que nos ensina a servir, a amar. E vocês não se envergonham da sua cruz.

Mais ainda, a abraçam porque compreenderam que a verdadeira alegria está no dom de si mesmo e que Deus triunfou sobre o mal precisamente com o amor. Levam a cruz peregrina através de todos os continentes, pelas vias do mundo.

A levam respondendo ao convite de Jesus: «Vão e façam discípulos de todos os povos» (Mt 28,19), que é o tema da Jornada Mundial da Juventude deste ano. A levam para dizer a todos que, na cruz, Jesus derrubou o muro da inimizade, que separa os homens e os povos, e traiu a reconciliação e a paz.

Queridos amigos, também eu me ponho no caminho com vocês, sobre as pegadas do beato João Paulo II e Bento XVI. Agora estamos já cerca da próxima etapa desta grande peregrinação da cruz de Cristo.

Aguardo com alegria o próximo mês de Julho, no Rio de Janeiro. Convido-os para aquela grande cidade do Brasil. Preparem-se bem, sobretudo espiritualmente nas suas comunidades, para que este encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro.

Vivamos a alegria de caminhar com Jesus, de estar com ele, levando a sua cruz, com amor, com um espírito sempre jovem.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria. Ela ensina-nos o gozo do encontro com Cristo, o amor com o qual devemos olhá-lo ao pé da cruz, o entusiasmo do coração jovem com o qual temos de segui-lo nesta Semana Santa e durante toda a nossa vida. Ámen.


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