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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O HIV afeta a capacidade de reconhecer as emoções no rosto dos outros

Deficits neurocognitivos estão entre os problemas que os seropositivos precisam enfrentar


Roma,


Uma equipe de pesquisa da Universidade Católica de Roma descobriu que o vírus da sida também afecta a capacidade dos pacientes com HIV de reconhecer as emoções no rosto das outras pessoas, especialmente as expressões faciais que revelam medo e felicidade.

A descoberta é o resultado de um trabalho publicado pela revista de acesso gratuito BMC Psychology. A pesquisa foi feita pela dra. Eleonora Baldonero, doutoranda no Instituto de Clínica de Doenças Infecciosas da Universidade Católica de Roma, e coordenada pela professora Maria Caterina Silveri, responsável pelo ambulatório da Clínica de Memória - Unidade Day Hospital de Geriatria da Universidade Católica - Policlínica Gemelli, em Roma.

As pesquisadoras descobriram que as deficiências no sistema natural de reconhecimento de emoções alheias, importantíssima capacidade humana que permite a empatia, tem a ver com outros problemas enfrentados pelos portadores de HIV, como os deficits de memória de curto prazo e os mais gerais distúrbios cognitivos. Isto sugere que existe uma relação entre a capacidade de reconhecer as expressões faciais e outras funções cognitivas, que dependem da actividade de estruturas cerebrais complexas, tais como a amígdala, que é uma área importante para a emotividade, na qual nasce, por exemplo, a sensação de medo após a percepção de perigo.

"A expectativa de vida das pessoas com HIV/sida tem aumentado significativamente nos últimos anos graças a novas terapias antirretrovirais, com a consequente necessidade de abordar questões que dizem respeito à qualidade de vida. É o caso das problemáticas de tipo neurocomportamental, que nós analisamos ​​em nosso trabalho no tocante à emotividade", diz a dra. Baldonero.

"Fizemos um teste que consiste em pedir que as pessoas envolvidas identifiquem as emoções manifestadas no rosto de actores fotografados (teste de Ekman)", explica a professora Silveri.

Os especialistas compararam um grupo de pacientes seropositivos com um grupo de indivíduos saudáveis, descobrindo que os primeiros demonstravam dificuldades para reconhecer o medo "pintado" no rosto alheio. Em geral, comenta a dra. Baldonero, essa dificuldade vem acompanhada de uma diminuição da memória de curto prazo, o que indica que as duas funções estão de alguma forma relacionadas. Além disso, entre as pessoas seropositivas, as mais comprometidas cognitivamente na capacidade de tomar decisões e de aprender apresentaram uma dificuldade selectiva em reconhecer a emoção específica da felicidade.

"Os nossos resultados”, considera a professora Silveri, “mostraram que os indivíduos seropositivos foram capazes de reconhecer algumas expressões faciais, mas a maioria deles não reconheceu a expressão facial do medo. Este resultado ainda não tem, neste momento, uma explicação adequada".

Pode-se supor que essa falta de reconhecimento esteja relacionada com traços pessoais e psicológicos individuais das pessoas envolvidas na pesquisa, mas a frequência com que o fenómeno foi observado em pacientes com sida é muito alta para ser apenas casual. O mais provável é que se trate de uma alteração assintomática que não se manifesta na vida quotidiana, surgindo apenas através de testes específicos. Uma série de estudos já indicava que outros distúrbios neurocognitivos (leves deficits de memória e de atenção) são detectáveis em 30-40% dos indivíduos seropositivos apenas através de testes neuropsicológicos, não sendo reconhecíveis nem pelo próprio indivíduo nem pelas pessoas que se relacionam com ele no dia-a-dia.

"A questão levantada, para a qual não temos explicação por enquanto, é se essas alterações da emotividade, bem como as alterações neurocognitivas assintomáticas já conhecidas, podem ou não evoluir para um distúrbio mais evidente, à medida em que os indivíduos afectados vão envelhecendo", destaca Baldonero.

"A mensagem que queremos passar à comunidade científica é a de perceber nos indivíduos seropositivos a oportunidade de monitorizar tanto os aspectos cognitivos quanto os mais propriamente emocionais", concluem as autoras do trabalho.


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