Páginas

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A Igreja na Índia lança uma original campanha contra o aborto e a violência contra as mulheres


«37 milhões de luzes» é o seu lema

O objectivo dos católicos indianos é sensibilizar a sociedade do prejuízo tão grande que se faz às famílias e à nação com a cicatriz do aborto e a perseguição às mulheres.

Actualizado 6 Fevereiro 2013

Justo Amado / ReL

A arquidiocese de Bombaim, na Índia, lança uma campanha chamada “37 milhão Diyas”, 37 milhões de luzes contra os abortos selectivos em razão do sexo e contra a violência que sofrem as mulheres. O número refere-se à diferença entre homens e mulheres que mostrava em 2011 o último censo deste populoso país.

Em todas as paróquias da arquidiocese acenderam-se 37 milhões de lâmpadas e velas para sensibilizar a comunidade cristã ante tantas formas de violência contra as mulheres: abortos selectivos, homicídios por causa dos dotes, violações, mortalidade materna e infantil, violência doméstica

Uma agressão em cada 7 minutos
A violação, tortura e assassinato de uma jovem estudante de 23 anos na Índia num autocarro às mãos de um grupo de seis homens em 16 de Dezembro levantou uma onda de indignação por todo o país. Apesar de que se sucederam as manifestações e de que este caso parece ter sido revoltante para a sociedade indiana, desgraçadamente continuaram ocorrendo casos similares.

E é que as estatísticas mostram que há uma agressão a uma mulher em cada 7 minutos e se comete uma violação em cada 54 minutos. Estes casos alcançam cifras incríveis num país povoado como a Índia. Por outro lado, numa sociedade tão tradicional, levantar a voz contra qualquer crime sexual é um tabu. As vítimas, tem que ter muita valentia para denunciar.

Num esforço para ir à raiz do problema a arquidiocese de Bombaim lançou esta iniciativa “37 milhão Diyas”. A diya – que é a imagem que se poderá ver em todas as paróquias de Bombaim - é uma lâmpada de barro com azeite que se tinha como luz nas casas mais humildes. Segundo a tradição indiana, uma forma de representar os amantes é com a imagem da “diya”, a lâmpada, e o “baati”, a mecha de algodão. Para dar luz necessita-se de ambos. Vão sempre juntos e um está incompleto sem o outro.

Milhões de mulheres “perdidas”
Na Índia claramente falta luz. Devido ao desprezo pela mulher, ter uma filha é uma desgraça pelo que um grande número de famílias indianas recorre ao aborto selectivo. Identifica-se o sexo do feto no ventre da sua mãe, algo que em teoria está proibido pela lei, e, se é menina aborta-se. Segundo dados da ONU, crê-se que desta forma se “perderam” 62 milhões de mulheres na Índia, um número equivalente às populações da Suécia, Áustria, Suíça, Bélgica e Portugal juntos.

Num texto que acompanha esta campanha, desde a arquidiocese de Bombaim analisavam o que há por detrás deste desprezo tão profundo da mulher: “Como sociedade devemos considerar como tratamos a sexualidade humana. Vivemos numa sociedade que tolera qualquer tipo de conduta e desvio sexual entre os adultos. As mulheres, os homens e inclusive os meninos são tratados como objecto e joguetes sexuais”.

Reconhecem além disso que a justiça não conseguiu muito para enfrentar este grave problema de violência e desprezo da mulher: “Não há dia em que não haja alguma notícia de violência contra as mulheres, seja no lar ou nas ruas”. “As mulheres”, acrescentam, “são convertidas em mercadoria, se as priva de respeito e se as elimina; as meninas são discriminadas inclusive antes de nascer; as esposas tratadas como escravas”.

Por causa da festa da criação da República Índia, no passado dia 26 de Janeiro, a Conferência Episcopal Índia lançou uma mensagem na qual recordava que se trata de um problema de formação da pessoa, “a que devem contribuir pais, professores, anciãos, líderes espirituais e autoridades”.

Segundo os bispos indianos, “a violência contra as mulheres e os meninos – no só as violações, mas sim todos os casos de feticídios e infanticídios femininos, os assaltos, os raptos, os delitos de honra e pelo dote – arruínam os pilares da sociedade e da nação, retardando o caminho até à paz e a prosperidade”.

A campanha das 37 milhões de velas teve lugar também nos colégios católicos precisamente no dia 26, no Dia da Índia. Mudar de mentalidade através da educação pode ser o único caminho para que diya e baati voltem a iluminar a Índia.


in


Sem comentários:

Enviar um comentário